terça-feira, 21 de junho de 2011

                                                    SINA E POESIA
Elson Reis de Oliveira


Sob o olhar impassível de autoridades e cidadãos
Agoniza o Rio Verde Grande

Vagando preguiçoso no seu caminhar sinuoso e quase inerte.

A sinistra sombra da morte serpenteia seu leito como prenúncio
De um trágico futuro. . .

Pobre Rio da minha infância, quisera eu afagar minhas lamúrias
Em suas torrentes, vislumbrar minha imagem desfocada
Na seiva viva que outrora corria em suas artérias caudalosas.

Quanto lixo, quanto asco. . .  Hoje, o rubro e o oliva que tingem
Suas águas são o sangue venoso que exala do fétido
Dejeto orgânico e químico;
Resultado da ganância desmedida de uma geração sem cabeça,
Sem alma, sem coração. . .

Adeus maromba, adeus poço da Vovó, poço da caixa d'água,
curva do rio, debaixo da ponte.
Adeus pedreira, areinha, poço de Luiz Maia. . .
Reminiscências de minha infância,
meus primeiros madrigais
áureos tempos, sonhos idos;
dias passados que não voltam mais.

Venham todos. Olhai a nova  ponte
Mas não esqueçais do rio que debaixo dela passa.

Venha João, José e Maria, chame seu pai, sua mãe, seu irmão e sua tia.
Venha ver o rio.
Quem sabe ainda haja tempo de ver o peixinho
Que teimoso debate na vasa a procura de ar puro.

Venha meu vizinho, chame seu amigo, seu compadre, seu filho.
Chore aqui comigo.
Quem sabe nosso pranto sirva de agulha para tantas linhas ordinárias
Que divagam e perpassam sobre seu leito sem vida.

Quem sabe unindo nosso pranto possamos encher de canto
O encanto, enquanto nosso labor seca a gota desse olhar.


Jaíba, 03 de Setembro de 2001.